segunda-feira, 14 de dezembro de 2015



ADORO O PHOTOSHOP


Adoro meu Photoshop. Mentira, adoro todos os Photoshop. Acredite, às vezes eu uso o editor online! De manhã cedo, logo que me levanto da cama, não tomo meu café com tanto prazer se eu não tiver a meleca do Photoshop e algo para colar nele (?!*#$@)... Droga de Photoshop... Mas eu adoro. E acho que se você não adora também, talvez você tenha uma psicopatia: não gostar de Photoshop!... Ou talvez não enxergue...

Ora, ninguém vai me condenar por isso. Todo mundo gosta, até os que não o conhecem, mas se ligam nas imagens produzidas por ele, e que estão em toda parte, na televisão, e na memória subconsciente de todos nós! "Oh My God...", haja espaço para tudo que o Photoshop faz!... O Photoshop só tem um probleminha, que a imensa maioria dos usuários nem percebe, por sofreguidão: é ele "quem" faz tudo. Óóóóóó... Mixou a brincadeira...

Não mixou o Photoshop. Embora tenha um imenso arsenal de recursos, ele faz apenas uma coisa: o que ele foi feito para fazer. E faz rápido e muito bem feito, como ninguém faria nem gastando o período todo e mais outro período engatado. Portanto ninguém deve dizer que ele faz algum mal. Não faz. Entretanto, às vezes não percebemos bem quando devemos usá-lo, e quando também pode ser muito bom fazer sem ele! E para os viciados há uma alternativa, nem tudo está perdido. Talvez seja possível uma combinação menos radical, politicamente correta (se é que isso realmente existe), um inimputável "ménage à trois", ou seja, em parte usamos técnicas manuais e em parte clicamos no ícone do Photoshop!... Sem maledicências, por favor.

Meu consolo (detesto isso), é que não sou um artista plástico de primeira viagem. Quando comecei não havia computadores disponíveis, nem "personal computers", e muito menos Photoshop. Mesmo quando chegaram as primeiras máquinas, grande novidade no mercado para empresas, aquelas máquinas haviam sido desenvolvidas basicamente para texto. Difícil trabalhar imagens com aquilo (diagramação e transmissão), não havia ainda a tecnologia que produziu diversos formatos de dados de imagem, com propriedades diferentes. Não havia pixels transparentes!

Fomos então obrigados a saber fazer, dispor e sobrepor, não existia quem fizesse seguindo roteiros de código de programação, com as suas infindáveis e hierarquizadas sequências de conjunções condicionais. Se isso é verdadeiro fazemos assim, senão fazemos assado. Façamos assim enquanto "isso" for verdadeiro, depois retorne alguma coisa (escapar do looping), ou... É assim que tudo funciona na "cabeça" dos computadores. Para desespero de aficcionados ingênuos, o computador não vê sequer o que o navegador põe na tela, e que é tudo o que nós podemos ver. Isso mesmo... O computador é leso das vistas, incapaz de ver uma única coisa além de bits "sim" e "não", compondo bites.

Sou feliz. Adoro o Photoshop para todas as coisas fantásticas que ele pode fazer e que EU NÃO POSSO (ou não me convém)... Sou feliz porque sou eu quem decide (e não ele), porque não estou sozinho no mundo nem caí do caminhão, porque sei que existem muitas pessoas, artistas plásticas ou não, que valorizam a relação de domínio da técnica artística, entre os planos da alma e do veículo material em que o produto artístico é consumado, e assim possa estar disponível à sensorialidade humana.

Sou feliz porque tentei ensinar aos meus alunos, que não se pode ser um artista pretensioso da sua arte, enquanto não se compreender bem o que se faz. Psiquicamente, emocionalmente, motoramente, química e mecanicamente. Eletronicamente?... Sim, por que não? Desde que se saiba o que está fazendo, ou melhor, fazendo o que se quer fazer, em vez de uma coisa qualquer de autoria do acaso. O acaso não pode assinar, nem construir uma identidade artística humana, embora até possa ser comercial, consumista, capitalista...

Enfim, adoro o Photoshop... Mas nem que a porca torça o rabo abro mão do meu ateliê, entulhado de coisas que foram e são importantes coadjuvantes, injustiçados quando aplaudem um trabalho meu. Não renego a sujeira colorida dos meus antigos laboratórios de técnica artística. Lamento quando não encontro mais um determinado croqui, que tenha na memória. E não jogo no lixo um reles pedacinho de carvão, se ainda puder esfuminhar com o seu pigmento de carbono a microtextura de um papel.

Todavia não imaginem que eu diga tudo isso apenas pela minha arte. Ninguém deve se espantar, mas sou convicto de que o editor da Adobe é apenas um retalho de uma insuspeita colcha, que acoberta uma verdade dura demais para ser aceita. Vivemos um processo de transformação da espécie neste planeta, em etapa terminal, que deverá rachar a humanidade, ou o que sobrar dela, caso conflitos extremos e cataclismos deixem algo para se dividir. Não é exagero, e não seria a primeira vez. A verdade sob os retalhos da colcha deve ser também composta de uma diversidade.

Em síntese, penso assim... Na dinâmica das nossas ambições mesquinhas, potencializadas por fatores como a explosão demográfica (consumo) e os valores egoístas que sustentam o capitalismo (materialismo, superficialidade, riqueza e poder), assolamos muito mais do que o espírito da arte. Produzimos degradação do espírito da nossa espécie, de outras espécies e das condições ambientais essenciais à vida, oferecidas natural e gratuitamente pela natureza do planeta.

Sobrepusemos o nosso pretenso poder criativo (tecnologia, à imagem e semelhança do Criador) aos sistemas naturais. A humanidade está doentia, porque sua relação com a natureza foi seccionada, os princípios físicos e metafísicos que ordenam o equilíbrio foram afetados, a capacidade de recuperação da natureza foi sobrecarregada, e os nossos dejetos, que se acumulam até mesmo na órbita do planeta, terão de ser limpos por fenômenos de grande magnitude. Arrancar apenas o joio, poupando o trigo, está cada vez mais difícil.

Não abomino a utilidade da nossa tecnologia. Até adoro Photoshop. Mas o uso de tudo deve ser racional e sensato, em favor de tudo. O homem é uma espécie racional, tida como a única por aqui. O domínio deve ser do homem como um todo, mas o homem foi escravizado para enriquecer os que investem no desenvolvimento da tecnologia, produzem-na e a comercializam. Não é seguro, muito obviamente, o postulado segundo o qual isso se reverte em benefício para todos. E uma enormidade de outros falsos conceitos se prestam de decorativos retalhos. O homem foi quem deixou de fazer, o que foi feito para fazer.

Por isso faço tanta questão de ser um artista artesanal e, tanto quanto consigo, sinto um friozinho mas dispenso a colcha... Sim, claro, eu também sou escravo da tecnologia. Contudo não deixo de tomar o meu café toda manhã, coado no pano e não no Photoshop!... Mas que eu adoro o Photoshop, ah... Isso eu adoro.

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